“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

"PESSOA (Hipóstase)"

Na Igreja, ouvimos frequentemente a expressão: “Um Deus em Três Pessoas”. Sabemos, de fato, que nosso Deus é um Deus pessoal: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Deus não é apenas unidade, mas união, pois as pessoas divinas são “unidas sem confusão: distintas, porém não divididas” (São João Damasceno). Cada uma das três Pessoas da Trindade habita nas outras duas, em razão de um movimento perpétuo de amor (o que designa a palavra “pericorese”, que significa interpretação, reciprocidade, fluxo de vida)

Deus é uma essência em três Pessoas. Nesta expressão, a palavra “pessoa” é frequentemente substituída por “hipóstase” (pessoa vem do latim ´persona´: máscara, e corresponde à palavra grega “hypóstasis”: o que se põe por cima, o que se sobrepõe). Assim, diz-se que a união das duas naturezas em Cristo – a natureza divina e a natureza humana – é uma união “hipostática”, quer dizer, da pessoa. Não podemos aqui entrar em explicações complexas desses termos, mas deve-se compreender que, na teologia ortodoxa, a “hipóstase” designa a “pessoa”, e que “Deus Se fez homem para nos comunicar e plenitude da existência pessoal”

De fato, estas palavras se aplicam também aos homens. Todos os homens possuem uma natureza comum que nos parece fragmentada pelo pecado, dividida em vários indivíduos. Ou, não se deve confundir, como o fazemos com frequência, “indivíduos” e “pessoas”. Indivíduos, parcelas da natureza humana decaída, aquilo que chamamos liberdade, a submissão aos caprichos, aos desejos, às paixões e à vontade própria que afirmamos nossa natureza, opondo-se aos outros como nosso “eu” egoísta e separado. Tudo isso é causa de sofrimento e de morte. Mas não somos apenas isso.

Somos, ou antes, nos tornaremos pessoas enxertadas no Corpo de Cristo e recebendo a unção do Espírito pelo Batismo, pelo Crisma, ou seja, os sacramentos e a vida em Igreja. É enquanto pessoa que o homem deve se realizar e tornar-se livre frente à natureza comum para não ser determinado por ela. Para que alguém ‘seja´ realmente, é necessário que ele seja uma “pessoa” (hipóstase) e que ele esteja em relação de ´comunhão´ (pericorese) com Deus e com os outros, pois a pessoa humana, à imagem de cada uma das Pesoas Divinas, só existe em relação com as outras pessoas.

A pessoa, é criada à imagem de Deus. Cada qual é única, indefinível, insusbstituível. E na Igreja que é a unidade primordial do homem enquanto pessoa será restabelecida como Corpo de Cristo, reflexo da vida divina das Pessoas da Trindade Santa.

É isto, porque pessoa não é uma entidade estática, fechada nela mesma, mas uma realidade dinâmica, chamada a realizar ´livremente´sua semelhança divina. Ela se determina por sua relação universal de comunhão com Deus e com os outros. Ela é chamada a conhecer Deus e a tomar parte de Sua vida. Enquanto imagem de Deus, o homem é um ser pessoal, diante de um Deus Pessoal. À imagem de Deus é o homem enquanto pessoa. Realizar sua salvação é receber a vida da Trindade, é fazer-se à imagem da Trindade na comunhão de todos.